Estamos no início do Séc XVIII no Brasil, no Vale do Rio Paraíba, uma região permeada por conflitos entre colonizadores, escravos e indígenas. Localizada entre as Serras do Mar e Mantiqueira, faixa limite entre o sertão e o litoral, a região tinha, como sua principal atividade econômica, a agricultura e pecuária de pequenos produtores, mas também era a principal rota de minérios, como ouro, prata e pedras preciosas, em direção aos portos, de onde seguiam para Portugal. Em uma época de escravidão, colonização portuguesa e incertezas, a religião era uma fonte de conforto e esperança.
Os três pescadores
As pequenas vilas eram constituídas por simples casas de taipa, uma estrutura de barro misturado com palha e madeira, com poucos moradores, que se dedicavam à criação de pequenos rebanhos e pesca no Rio Paraíba do Sul, na Capitania de São Paulo, atualmente estado de São Paulo, na divisa com Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Em 12 de Outubro de 1717, três pescadores, João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, após um dia exaustivo e infrutífero, estavam prestes a desistir da pesca e retornarem de mãos vazias para suas casas, quando, após uma última tentativa de jogar a rede, foram surpreendidos com grande quantidade de peixes, e entre eles, o pequeno corpo de uma imagem de barro de Nossa Senhora da Conceição. Um segundo lançamento da rede mostrou-se ainda mais produtivo, com uma quantidade ainda maior de peixes, suficientes para encher a pequena embarcação, e , qual não foi a surpresa dos três quando viram, em meio à rede, a cabeça que faltava à pequena imagem.
Os pescadores recolheram as partes da imagem e, embora estivesse quebrada e muito danificada, eles decidiram levar a imagem de volta para suas casas. Durante algum tempo, a imagem permaneceu na casa de Felipe Pedroso, um dos pescadores. Foi nesse momento que ocorreram os primeiros relatos de milagres associados à imagem de Nossa Senhora da Conceição, agora chamada de Aparecida, por ter aparecido, surgido, milagrosamente, nas águas do Rio Paraíba.
A história da imagem de Nossa Senhora Aparecida
Muitos anos depois, em 1732, a imagem foi transferida para uma capela construída especificamente para abriga-la, tornando-se um ponto de peregrinação para os fiéis. As histórias de graças alcançadas e milagres atribuídos à intercessão de Nossa Senhora Aparecida continuaram a se espalhar, consolidando sua importância na fé dos brasileiros, como o do então escravo, Zacarias, que, ao passar na frente da capela dedicada a Nossa Senhora, solicitou uma parada para rezar. Depois disso, seus grilhões se quebraram e seus senhores o libertaram.
Ainda há outros milagres, entre os mais famosos, como o da criança cega que pediu aos pais para ser levada até a Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Então, durante a visita disse: “como é linda essa igreja” e, a partir daí, passou a enxergar normalmente. Ainda houve o cavaleiro sem fé que não acreditava na força da santa, e para provar sua convicção quis entrar com o cavalo na igreja. Durante o percurso, a pata do animal se prendeu, derrubando o cavaleiro, que acabou por admitir que essa era uma das provas dos poderes de Nossa Senhora.
Devoção para Nossa Sra da Conceição Aparecida
A princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II, era uma devota de Nossa Senhora Aparecida. Em 1868, ela fez uma promessa à santa: se conseguisse engravidar, ofereceria um manto à imagem. Em 1870, a princesa Isabel engravidou. Ela cumpriu sua promessa e ofereceu uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, e ainda um manto azul bordado em ouro à imagem de Nossa Senhora Aparecida. A princesa Isabel deu à luz uma menina, que foi batizada de Leopoldina.
A Basílica da Padroeira do Brasil
A princesa Isabel do Brasil, filha mais velha do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Dona Teresa Cristina, sempre foi uma grande defensora da devoção a Nossa Senhora Aparecida, tendo visitado a imagem várias vezes, sendo responsável pela construção da nova basílica de Nossa Senhora Aparecida, inaugurada em 1931, atualmente um dos maiores e mais importantes santuários marianos do mundo. A devoção a Nossa Senhora Aparecida cresceu ao longo dos anos, e ela foi coroada como Rainha do Brasil, pelo Papa Pio X, em 8 de setembro de 1904, com a coroa doada pela Princesa Isabel. A celebração solene foi dirigida por D. José Camargo Barros, com a presença do núncio apostólico, muitos bispos, o presidente da República Rodrigues Alves e numeroso povo.
Depois da coroação o papa concedeu ao santuário de Aparecida mais outros favores: ofício e missa própria de Nossa Senhora Aparecida e indulgências para os romeiros que vão em peregrinação ao Santuário. O reconhecimento oficial veio em 1930, quando o Papa Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida como a Padroeira do Brasil. Houve necessidade de um local maior para os romeiros, assim, em 1955 iniciou-se a construção da Basílica Nova, com projeto do artista e arquiteto Benedito Calixto, que idealizou um edifício em forma de cruz grega, com 173m de comprimento por 168m de largura; as naves com 40m, a cúpula com 70m de altura e a torre com 110m, recebendo cerca de 10 milhões de peregrinos anualmente.
A consagração da Basílica de Nossa Senhora Aparecida
Em 4 de julho de 1980, o Papa João Paulo II, em sua visita ao Brasil, consagrou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o maior santuário mariano do mundo, com capacidade para 30 mil pessoas, em solene missa celebrada, revigorando a devoção à Santa Maria, Mãe de Deus.
A devoção a Nossa Senhora Aparecida é uma parte fundamental da cultura religiosa brasileira e desempenhou um papel significativo na história do país. Seu dia de festa, celebrado em 12 de outubro, é um feriado nacional, e os fiéis de todo o Brasil se reúnem para honrar sua padroeira com orações, peregrinações e celebrações religiosas. A história de Nossa Senhora Aparecida é um testemunho da profunda fé e devoção que os brasileiros têm por ela.
Autor da imagem da capa: CC BY 3.0 br File:Basilica of the National Shrine of Our Lady of Aparecida, 2007.jpg Criação: 8 de maio de 2007 (segundo os dados Exif)
